Na árvore de concreto
canta o passarinho,
encanto de parecer livre.
O momento chegou; a sóbria louca na portaria da angústia de estar preso em sua liberdade, enjaulado no terror sufocante do alívio pelo aprisionamento dos remédios colocados tal e qual o alimentar de um passarinho engaiolado, e assim como ele: sentir a agonia se transformar em canto.
- É agora! - por entre pássaros mudos do medo pela não existência do existir - consigo passar?; um único vacilo da minha louca porteira, que por rompante ultrapasso; escuto gritos dos ditos normais que de longe tentam impedir minha chegada ao mundo, assim como o primeiro, o segundo ou até mesmo terceiro parto, contudo, outra porta que dentre várias outras, sei qual não está trancada. O ambiente agora é o silêncio sepulcro da inquisição vigiada por uma Madre, que lendo suas preces, não percebe minha presença. Enfim, a rua de todos os loucos aqui na palma de meu tênis; como é bom sentir o frescor do asfalto, canto das buzinas, o farfalhar de vozes impregnadas em corpos invisíveis. Cheiro de cidade é o bálsamo aos pulmões - andar. Andar; leste é o rumo sempre da noite, meu lar preferido.
Só vejo linhas como caminho e de repente, uma luz em meu peito - correr; correr, pois é o que significa liberdade. A direção - condição de ser livre - mudo pro outro lado da rua; motores em minhas costas competindo com o ímpeto de voar; corro, corro entorpecido pelo licor de ser eu mesmo -
sempre ela - minha irmã - tutora que não suporta a ausência do dinheiro que minha presença nas ruas do mundo nela desperta. Solução: internação de um incapaz que só vive essa tal de liberdade sem dar satisfação a tudo e a todos - "Pode isso permanecer acontecendo? Um asilo de loucos. Não bem loucos, pois são tratados pelo louvor do Divino; alguns "remedinhos" aqui, outro ali, e quando falta - é isso que acontece, temporada de caça ao passarinho fujão."
Para todo vôo, o pouso; para liberdade, a gaiola.
Paro. Olho. Sinto a cidade; e Grito.
Um grito surdo por apenas ser...
Eu.
texto/arte: Assis garceZ
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