terça-feira, 16 de agosto de 2011

entreVista - Diana Gilardenghi

 Acredito que a dança contemporânea hoje apresenta uma importante diversidade de propostas e métodos de trabalho em busca de novas pesquisas que apontam e vão ao encontro de uma dança mais autoral, livre de regras e aberta a múltiplos diálogos.

Divulgação
Diana Gilardenghi, natural da Argentina, iniciou seus estudos na escola Nacional de Dança e formou-se pelo Taller Del Teatro General San Martin, em Buenos Aires. Mudou-se para Florianópolis em 1992.
Atua profissionalmente desde 1978. Fez parte de grupos como Plastercaster, Duggandanza, Potlach e Ronda. Em 2000 foi selecionada para o Rumos Itaú Cultural com a coreografia “Crosta”, projeto que mapeou a dança contemporânea no Brasil. Recebe o Prêmio Klauss Vianna 2008 realizando “Um Duplo”
Atualmente trabalha no ensino da dança, ministrando aulas de Dança Contemporânea e Improvisação em Florianópolis(SC). Integra a Triz Cia.de Dança onde o grupo desenvolve sua pesquisa pautada na improvisação, explorando através de imagens, temas, conceitos ou estímulos surgidos de um interesse em comum.

A dança enquanto expressão artística tem no corpo o seu limite?
O corpo que dança busca novos estados e relações com o tempo-espaço, desafia seu corpo criando estratégias e estímulos que o ajudam a ampliar ou bem reduzir, comprimir o movimento; o acelera, pausa, dilata - o desafia a reinventar-se ampliando seus limites naturais anatômicos; se mescla e prolonga nos objetos cênicos - objeto-corpo, corpo-objeto.
Vídeos e novas tecnologias provocam um constante estado de fluxo, conexões, relações que estendem o corpo para além dos seus limites.

A busca por esse estado de fluxo e conexões com as novas tecnologias como extensão do corpo; até onde é uma condicionante em seu processo criativo?
Num aspecto mais prático e realista, se nós decidimos sobre o uso de um recurso,tão simples como o vídeo por exemplo, levando em consideração não só a parte de criação e composição mas de custo e viabilidade dos espaços de ensaio, nos condicionaria e demandaria numa infraestrutura maior de funcionamento de grupo, assim como de aprofundamento e maior conhecimento da tecnologia a ser utilizada.
No geral no nosso processo criativo usamos pouco as novas tecnologias. No entanto, pelo fato de existirem no nosso cotidiano, elas se fazem presentes ressoando em nossos corpos. Podemos lançar mão delas, nos dando possibilidades de escolha, fazendo paralelos, mas acredito que não é uma condicionante, bem como não restringe; ao contrário, estimula marcando as mudanças e avanços do nosso tempo.

A perda da sensualidade na dança em movimentos até mesmo bruscos em sua maioria, é uma realidade; tendência; fuga ou apenas limitação na criação?
Acredito que a dança contemporânea hoje apresenta uma importante diversidade de propostas e métodos de trabalho em busca de novas pesquisas que apontam e vão ao encontro de uma dança mais autoral, livre de regras e aberta a múltiplos diálogos.
É verdade que encontramos familiaridades em alguns trabalhos, com uma estética parecida, seja pelo uso da movimentação ou bem pela organização ou formato, mas me parece um reflexo, uma resposta do que existe, vemos e aprendemos, numa dialética entre homem e sociedade.
Abordagens e treinamentos de técnicas corporais são transmitidos e adquiridos nas aulas, padrões de movimento estes que muitas vezes são incorporados ao processo estético-criativo, no entanto se apropriar desta estética é uma escolha, uma identificação, um desejo de pesquisa que sem dúvida interessa ao criador que experimenta nesta ou naquela direção.
Por isto não me parece que seja uma limitação na criação e sim um caminho, que também fala do corpo como "local de inscrição dos discursos e representações culturais, que posicionam os sujeitos em lugares sociais específicos, por meio da construção de diferentes “marcas corporais".(LOURO, 2004).

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