quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

enSaio - Epiderme


[...] Não apenas pessoas e animais, mas até espírito e, acima de tudo, imagens podem habitar um lugar, então podemos ter uma ideia concreta do que concerne ao flâneur e do que ele procura. Nomeadamente, imagens, onde quer que se apresentem. O flâneur é o sacerdote do genius loci [ espírito do lugar]. Este transeunte despretencioso com sua dignidade clerical, sua intuição de detetive, e sua onisciência [...]
Walter Benjamim
Filósofo





[...]Não há realidade pré-discursiva. cada realidade se funda e se define por um discurso[...]
Jacques Lacan
Psicanalista




Intericonicidade - me refiro às várias pontes de diálogo e discurso existentes entre os muros (dentro de seus contextos ou não) - as imagens "primária" (lambe-lambe) com interferências secundárias (físico-química e mecânica) e a fotografia dentro de uma perspectiva de transitoriedade das paisagens. E isso antecede a ressignificação! A tua fotografia, nesse processo, não fica na "superficialidade" do simples registro, vai além; ela penetra a "epiderme" desse organismo vivo que é a cidade, e a partir do teu flanar você tece uma espécie de narrativa imagética das paisagens e ao mesmo tempo se retroalimenta dessa transitoriedade, criando uma espécie de abrigo no ventre dessa urbanidade caótica.
Patrícia Arantez
Graduação em Educação Artística
 Pesquisadora em Arte Educação. Atriz e performer





[...]As fotografias são interessantes, remetem ao universo do urbano, como registro e recriação desse mesmo urbano, é o Brassai que tem uma série de grafites? você já viu essas imagens? pelo que lembro elas são belíssimas, pode de interessar, as fotos são muito bonitas. Eu fico me perguntando como se dá esse trânsito da rua, da existência dessas coisas como efemeridades urbanas - como parte da paisagem mutável do cotidiano - para esse universo da fotografia como objeto contemplável; me parece que é para visualização que você produz elas, não é? não é como simples registro, você busca um tipo de permanência, pelo acúmulo, pelo enquadramento, pelo deslocamento. O que é esse trânsito, esse diálogo daquele espaço com este espaço aqui do discurso visual. O que se produz no choque entre aquela intenção dessa imagem que foi colocada lá e o seu gesto de trazer ela pra cá, dar um lugar, um estatuto.

Juliana Gisi
Graduação no curso Superior de Pintura. Especialização em História da Arte do Século XX. Mestrado em Educação. Doutorado em Artes Visuais, linha de História,Teoria e Crítica de Arte. Autora do livro  "60/70: as fotografias, os artistas e seus discursos" 2015.  





A priori, na construção dessas imagens busco o estético, o belo para contemplação, advindo do caótico [destruição e/ou interferências anônimas], realmente esse é o mote, busco através dessa construção da imagem primando pelo rigor na composição, uma melhor sensibilização do receptor, um estímulo para a contextualização e/ou conceitos que o mesmo venha estabelecer com essas novas imagens e sua autoria. E, consequentemente é na composição que encontro a ferramenta nessa construção de algo não transitório e sim permanente enquanto obra artística, isso mesmo, não são apenas, um registro, são fotografias como obras de arte, não referência ou suporte apenas - a fotografia como obra artística. É isso, busco através dessas fotos [recortes de imagens na rua] - outrora apenas poluição visual pela destruição, ou até mesmo ignoradas - trazê-las das paredes da rua, sua origem, para as paredes das galerias de arte, estabelecendo um movimento insurrecto – o descartado estampado  visualizado e valorizado através de conceitos/contextos em um meio intelectualizado e segregador que é próprio da natureza das Galerias de Arte – um outro viés. Não levo em consideração o contexto, conceito e/ou intenção da imagem primária quando encontro a mesma, o que me interessa é extrair dali uma nova imagem através de recortes dirigidos inicialmente pelo belo [estético] e em segundo plano, um novo contexto e/ou conceito proporcionado pelas interferências físico [intempéries] e mecânicas [pessoas anônimas], estabelecendo o estatuto de uma imagem outrora descartada e efêmera por uma imagem valorizada e permanente enquanto obra artística; mesmo que para isso o instante fotográfico - encontro da imagem até seu descarte por falta de valor estético ao autor(eu) ou total desaparecimento leve semanas ou anos. Valeu mesmo pela referência à série graffiti do Brassai.
Assis  garceZ





RESSIGNIFICAÇÃO ICONOFÁGICA

Efêmera verdade perpetuada pelo signo

Não apenas uma reprodução, sim a fotografia da fotografia - recortes de paisagens urbanas, estabelecendo uma ressignificação da imagem outrora vigente através de uma nova composição norteada pela estética em função da existência de novos elementos advindos da intervenção de transeuntes ou outros artistas anônimos e intempéries comuns da efemeridade da fotografia estampada na parede da rua e, para isso, tudo nessa imagem degradada e/ou em torno dela como: textura da parede, rasgos do papel fotográfico, sombras, grafias; tudo que nessa   imagem está inserido passa a ter cada um, novo significante dentro do todo dessa nova imagem - um novo significado, um novo signo construído a partir do instante que a imagem é encontrada, até seu desaparecimento; instante que algumas vezes chega a duração de anos. Epiderme - efêmera transmutação perpetuada pelo registro fotográfico de imagens encontradas na rua, fruto do perambular de um flâneur (à deriva) pela cidade. 













































































































































































































































































 Destruição à construção

A quem pertence uma imagem - uma fotografia?, quem construiu; quem destruiu ou dela transforma no novo? Uma nova imagem que encontra na interferência de terceiros - mesmo de forma destrutiva - e o tempo de seu desaparecimento, a essência no processo de construção dessa mesma imagem outrora icônica agora símbolo da natureza transitória efêmera por não estar confinada em espaço restrito e sim na parede da rua - epiderme, em constante descamação, de uma cidade viva, orgânica - sujeita a qualquer intervenção.




+ imagens - Iconofagia
  textos/fotos: Assis  garceZ

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

dançAR


ANTES DA PALAVRA - DANÇA!

Do passo ao traço


Um Corpo - sujeito criador; suporte; objeto e referente de um mesmo corpo, que no ato da dança encontra na distância conceitual, enquanto obra de arte, sua separação; seu rito de passagem de um  Corpo - um ícone, para um  Corpo-que-dança - um índice, uma referência; prevalecendo nesse mesmo ato da dança - signo indiciário - o aqui e agora, nada de antes ou depois, nada de resíduos ou obra autônoma que possa circular após o término do ato artístico. Contudo, é em outro signo indiciário - a fotografia - traço singular dentro da distância espaço-temporal, que a Dança encontra uma atestação de sua efêmera existência; de sua rara beleza.