terça-feira, 25 de outubro de 2016

rUa.













foto: Assis  garceZ

imPermanência


Com a verdade da fotografia a prática do bem através da concretude do belo em imagens para contemplação pela construção estética.







Ontologicamente

o relógio analógico do ser
não se rende.
diz sim ao momento,
o tempo que foge no tempo
e beija o cansaço, quiçá.
do ser, o analógico relógio
dança pontual  inteiro;
de repente descompassado,
mouro montado em seu nagual,
abraça o tempo aqui e lá;
transforma em ouro
seus ponteiros
de aço.
e nesse espaço de tempo;
o ser presente com passado,
foge de novo no tempo
com o tempo no espaço que há...

Samantha Beduschi Santana





Fotografias de lambes/cartazes  como representantes de um tempo passado, um outrora, que insiste em ser lido em um agora estabelecido pela imagem fixada - representação simbólica que especula a natureza impermanente das coisas; a impermanência do ser.




  


























































































Em gratidão ao meu pai Odorico Fredy de Moraes Garcez (in memoriam)  
e minha mãe Lucimar Raimunda Vieira Garcez e família Garcez.
 
+ imagens
fotos: Assis  garceZ

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

esCrita


 
Solange Argon
Bailarina, Coreógrafa e Arte-Educadora,
graduada em Psicologia e pós-graduada
em Desenvolvimento Humano
e Linguagens da Arte. 




















[...] Não o poder que aliena, deslumbra e massacra, mas aquele que nos ajuda a compreender que a brevidade do tempo é imperativa e está acima de tudo, da ciência, da fé [...]



Wittgenstein, em determinado momento da construção de seu pensamento filosófico, considerou que magia e ciência, como instituições sociais distintas, possuem regras e objetivos distintos, não sendo adequado, portanto, aplicar critério de verdade e erro ao raciocínio mágico e religioso. Segundo o filósofo, estamos culturalmente acostumados a uma predileção da ciência em detrimento da magia/religião e, no entanto, cada uma delas satisfaz a uma disposição mental. Nem sempre a ciência satisfaz com suas explicações e vice-versa, pois isso varia de acordo com a disposição mental de cada cultura.
Gosto dessa ponderação, pois acredito que ela ajuda a preencher alguns buracos que naturalmente ficam inabitáveis se nos inclinamos sempre apenas para um dos polos. Além disso, torna mais saboroso o conhecimento da cosmogonia e dos símbolos de alguns povos e religiões, como respectivamente bem descrevem, por exemplo, Mircea Eliade, em seu livro "Mito e realidade", e Jung, em "O homem e seus símbolos".

Solange Argon
Quando sou bombardeada em museus e igrejas por símbolos que nos dão overdose de mitologia cristã, não consigo não pensar sobre o relicário. Além de sempre ter achado essa peça muito sinistra, porque sacraliza e reveste de riqueza um fragmento de um defunto, vejo o relicário como um dos símbolos que mais instiga o cabo de guerra ciência x religião. Não é apenas um fêmur datado pelo Carbono-14 que aponta o período em que viveu o genérico ser humano dono daquela perna. São três fios de cabelo do santo X no momento exato em que se abriu a chaga abdominal. Trata-se de uma precisão absolutamente não científica que só a fé dá conta.Dias atrás, em Siena, tirei uma fotografia de um relicário que, mantendo aqui a dicotomia religião x ciência, diz conter/contém o sangue de Cristo.
Então, como nos martela o velho ditado popular, se sangue de Jesus tem poder - e sem desrespeitar a crença, o tipo de crença e a descrença de cada um -, que ele (sangue) possa trazê-lo (poder) a nós. Não o poder que aliena, deslumbra e massacra, mas aquele que nos ajuda a compreender que a brevidade do tempo é imperativa e está acima de tudo, da ciência, da fé e inclusive desse período febril, como disse um amigo, pelo qual passa a democracia, seja nas relações virtuais, no corpo a corpo ou no plenário.


 para VER!