O corpo do texto
Meu sonho sempre foi fazer tatuagens. No peito vai uma bem
grande, minha vida é um livro aberto. Na careca, alguma
coisa solene como morada dos deuses. Talvez até merecesse.
Mas arrumei algo melhor como beco sem saída ou titica de
galinha. Ah sim, gostei. Bem mais apropriado. Nas pálpebras,
o corte da navalha. Na boca, o sol escaldante. Nos lábios,
comprando gato por lebre. Nas orelhas e ouvido, aqui Judas
perdeu as botas. Vamos virar o corpo. Nas costas peludas,
pradarias selvagens. No cóccix, o buraco é mais embaixo. Na
bunda, não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje.
No cu, um vaidoso abismo da alma, e um misterioso na boca
da noite. Voltemos ao outro lado. No coração, o sono dos
justos. No suvaco, brisa matinal. No antebraço, tempo é
dinheiro. Nas mãos, o silêncio opressor. No indicador direito,
senta que lá vem a história. No púbis, mato sem cachorro. No
pinto, ah, no pinto, início dos tempos, elixir da vida. Não,
muito grande, não vai caber. Entre a cruz e a espada. É maior
ainda mas não importa, aliás só coube a palavra entre. Talvez
pudesse ser, peso dos anos, não sei. Nos joelhos, olhos de
Capitu. No pé esquerdo, cagando e andando. No pé direito,
siga a voz da experiência. Poderia continuar, mas me
pediram para colocar a tampa antes que esfriasse.
O corpo de papai estava lindo para o enterro. Ficaria
orgulhoso. Para a epígrafe,uma foto e sua frase preferida,
uma imagem vale mais que mil palavras.
por: Luis Vassallo
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