quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Em cOnto



O corpo do texto



Meu sonho sempre foi fazer tatuagens. No peito vai uma bem

 grande, minha vida é um livro aberto. Na careca, alguma 

coisa solene como morada dos deuses. Talvez até merecesse. 

Mas arrumei algo melhor como beco sem saída ou titica de 

galinha. Ah sim, gostei. Bem mais apropriado. Nas pálpebras,

o corte da navalha. Na boca, o sol escaldante. Nos lábios, 

comprando gato por lebre. Nas orelhas e ouvido, aqui Judas 

perdeu as botas. Vamos virar o corpo. Nas costas peludas, 

pradarias selvagens. No cóccix, o buraco é mais embaixo. Na 

bunda, não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje. 

No cu, um vaidoso abismo da alma, e um misterioso na boca 

da noite. Voltemos ao outro lado. No coração, o sono dos 

justos. No suvaco, brisa matinal. No antebraço, tempo é 

dinheiro. Nas mãos, o silêncio opressor. No indicador direito,

senta que lá vem a história. No púbis, mato sem cachorro. No

 pinto, ah, no pinto, início dos tempos, elixir da vida. Não, 

muito grande, não vai caber. Entre a cruz e a espada. É maior

ainda mas não importa, aliás só coube a palavra entre. Talvez

 pudesse ser, peso dos anos, não sei. Nos joelhos, olhos de 

Capitu. No pé esquerdo, cagando e andando. No pé direito, 

siga a voz da experiência. Poderia continuar, mas me

pediram para colocar a tampa antes que esfriasse.

 O corpo de papai estava lindo para o enterro. Ficaria 

orgulhoso. Para a epígrafe,uma foto e sua frase preferida, 

uma imagem vale mais que mil palavras.



 por: Luis Vassallo

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