EU NÃO
Alexandre Lautert
Assis garceZ |
Inspirado no conceito homônimo de Peggy Phelan (e a partir da proposta
de Della Pollock), a escrita performativa é uma escrita que se expressa
simultaneamente a si própria e a partir do que a motivou. Debruça-se
sobre as representações usuais da vida social/performativa e dá especial
atenção às artes performativas. Evoca mundos da memória, do prazer, da
sensação, da imaginação e do afeto, e desconstrói as formações
discursivas subjacentes (por isso, gosta da genealogia, investiga os
palimpsestos). Relocaliza a citação (textos, práticas, discursos),
expondo a acumulação de citações. É sempre uma re-escrita. Como no
ritual, funciona no modo subjuntivo (o “como se”), e por isso, gosta de
imaginar mundos outros potenciais. Também é subjectiva, nervosa,
inquietada e, talvez, uma intervenção perigosa, porque estende o corpo,
seu centro, que reage aos estímulos. Sendo assim, combina igualmente
auto-biografia. É inconformada e consequente. Trata as culturas públicas
mais como sujeitos que como objetos, como sendo socialmente
construídos, em que os agentes são complexos e contraditórios. É uma
retórica como força produtiva, gosta de fazer coisas acontecer (e, por
isso, de ser lida). É uma atitude ética, política, estética. Por isso,
entra na arena da contestação, e apela a um investimento afetivo, de
quem está presente e que estará até ao fim.
Ricardo Seiça Salgado
Doutorado em Antropologia (2012) no IUL, na área dos estudos performativos (Visiting Scholar
na NYU, 2009). É pós-graduado em Antropologia: “Património e
Identidades”, pelo IUL (2002), e em “Culturas e Discursos Emergentes: da
crítica às manifestações artísticas”, pela FCSH (2008). Licenciado em
Antropologia na FCTUC (2000).
Performance: Alexandre Lautert
Arte híbrida pela UTFPR
Arte cênica pela FAP