Canção do autoexílio
Minha terra tem ar sujo
onde empoleira sabiá
essa pobre ave cujo bico enche de ar,
de ar sujo,
que é pra cantar.
Ao cismar sozinho à noite
mais cismando fico cá.
Minha terra tem nem água
prum de beber do sabiá,
minha terra dá é mágoa,
nem sei como há sabiá.
Minha terra tem ricos mil
e uma ou outra rica,
que acha que fica
muitíssimo bem sobre
duzentos milhões de pobres
a ver navio ( a ver a Nau!)
Minha terra tem também muita terra
só não pra sabiá.
E é um e o eu ou o... e o erro que erra
erra cá...
Sabiá, bate a asa,
vai procurar tua casa,
que aqui casa não há.
(Enquanto isso, do outro lado do córrego:
os morcegos
em torpor cegos
rodam num
lixão)
Lá há semáforos semânticos - na
sequência: buzina, freada. Traça
na vidraça, outro roto arroto, o roubo e o
rombo
que arromba a @ = pouco pão.
Mas ninguém viu.
Não é ninguém.
Nunca é.
Não permitam deuses que aqui morra...
Assis garceZ |
Lucas Zaparolli de Agustini é graduado em Português/Latim pela Universidade de São Paulo,
mestre em Estudos da Tradução pela USP, realiza atualmente pesquisa de doutorado a respeito do Don Juan de Lord Byron e suas traduções. Dedica-se à tradução, à poesia, à tradução poética, ao estudo do mito de Don Juan e do gênero satírico e ao estudo da literatura de diversas culturas. ganhou diversos prêmios e menções honrosas com o livro " Pelo Andar do Dia".
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