terça-feira, 20 de março de 2018

cOnto








O  momento chegou; a sóbria louca na portaria; no corpo a angústia de estar preso em minha liberdade de ser o que sou enjaulado no terror sufocante do alívio pelo aprisionamento dos remédios colocados tal e qual o alimentar de um passarinho engaiolado, e assim como ele: agonia em canto.

-  É agora! 

 Por entre pássaros mudos - consigo passar? um único vacilo da louca porteira e por rompante ultrapasso; escuto gritos dos ditos normais que de longe tentam impedir minha chegada ao mundo - assim como o primeiro, segundo ou até mesmo terceiro parto, contudo, outra porta que dentre várias outras, sei qual não está trancada. O ambiente agora é o silêncio sepulcro da inquisição vigiada por  uma Madre, que lendo suas preces, não percebe minha presença. Enfim, a rua de todos os loucos aqui na palma de meu tênis; como é bom sentir o frescor do asfalto, canto das buzinas, o farfalhar de vozes impregnadas em corpos invisíveis. Cheiro de cidade é o bálsamo aos pulmões - andar. Andar; leste é o rumo sempre da noite, meu lar preferido.
Só  vejo linhas como caminho e de repente, uma luz em meu peito - correr; correr, pois é o que significa liberdade. A direção - condição de ser livre - mudo pro outro lado da rua; motores em minhas costas competindo com o ímpeto de voar; corro, corro entorpecido pelo licor de ser eu mesmo. 
Sempre ela - minha irmã - tutora que não suporta a ausência do dinheiro que minha presença nas ruas do mundo nela desperta. Solução: internação de um incapaz que só vive essa tal de liberdade sem dar satisfação.

"Pode isso permanecer acontecendo? loucos. Não bem loucos, pois são tratados pelo louvor do Divino; alguns "remedinhos" aqui, outro ali, e quando falta - é isso que acontece - temporada de caça ao passarinho fujão."

Para todo voo, o pouso; para liberdade, a gaiola.
Paro. Olho. Sinto a cidade; e Grito.
Um  grito surdo por apenas ser... 
Eu.



texto/arte : Assis  garceZ

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