OBSOLETOS #00
Reflexões sobre a falta de sentido da vida sempre encerram contradições e costumam cair em melodrama. É difícil assumir o absurdo de ser humano sem soar imbecil. Talvez a literatura seja a única forma de explorarmos a piada que é existir sem que pareçamos totalmente patéticos.
Existe uma pretensa dignidade em escrever. Incapazes de jogarmos o jogo social sem que nossas mentes sejam devastadas, entregamo-nos à ficção. Dedicar-se à literatura é tão estúpido quanto ir à Igreja, mas o princípio é exatamente o mesmo. A busca por algum sentido é a mesma. Preenchemos nosso rombo no peito com ilusões. Uns precisam de deus. Outros fumam crack. Nós temos a escrita.
Acreditamo-nos obsoletos para esse século falido. Para ser humano. A única saída possível é a esquizofrenia da ficção - e o entorpecimento das substâncias, também. Esta é só mais uma tentativa de autoconvencimento: a publicação deste fanzine permite que continuemos iludidos por nossas pretensões literárias.
Temos 34 páginas de masturbação mental: violência, escatologia, loucura, desesperança. Sabemos que não faremos a menor diferença, e isso pouco importa. Resta-nos, enfim, o alento de uma certeza crucial: independentemente do que façamos, não há vitória possível. Isso permite que nos expressemos de forma genuína. Ou algo do tipo.
Desejamos-lhe muito mais que sorte.
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